E quem ainda não tem, adquira o seu. (62 85541259)
comentário do escritor Leonardo Teixeira
como não bajulo nem congratulo grupos seletos, arrisco dizer algumas impressões literárias que tive do primeiro livro do Marcos Marrom. A leitura desses poemas foi um bom desconserto! Digo isto por não ter cacife de crítico, mas por apreciar bastante as letras ficcionais brasileiras.
Marcos é um talentoso artista. Excelente é a sua mestria com bonecos. Na área literária me surpreendeu a primeira vista pelo título da obra. Não é surpresa para quem, como Marcos, iniciou o apreço pela leitura com o genial O Idiota de Fiodor Dostoievsky. O personagem Príncipe Míchkin realmente marca quem o conhece. A bondade e a sinceridade revela tragicamente que nesse mundo capitalista do consumo, obcecado por poder e conquista, o sanatório parece mesmo ser o único lugar para um santo.
O livro de poesias começa no Fim, passa pelo Recomeço e termina no Começo de um Novo Livro. O boneco Cirillo Florentino possui vida e opinião. O crack segue destroçando as ruas. A agonia da espera, o cachorro, a despedida, a guerra, os sonhos, o sol, a noite, a praça dos violeiros, o amor cego de Sicrano, a muriçoca, a cárie, a solidão, a flor, Goiânia, o quintal, a criança ... Sai de cima
A poesia ora faz jogo de palavras, ora tende a moderna arte visual. Trata-se de uma verve enxuta, simples, direta e clara. Sem os velhos adornos, conforme a modernidade recomenda. Posto que “escrever é cortar palavras” (frase atribuída a Ruskin, Drummond, Hemingway ou João Cabral). Apesar da confusão, a frase merece registro. Shakespeare (sem dúvidas de autoria) disse que “o poder de síntese é a alma da inteligência”.
São reuniões de vocábulos que junto se completam numa obra que desconserta os acostumados às letras comuns. Com uma maneira simples de dizer, alguns poemas se destacam pela ordem incomum de situações.
Existe certa sensibilidade ao descrever o cachorro (“registro de vida”) dormindo na rua. Uma profusão humorada do peixe que grita ao ser pisado. A carta de despedida se despede “cuide dos nossos pertences”. E assim a obra de Marcos segue num emaranhado mosaico de jogos de palavras, rimas e situações (no ônibus, no trem, no quarto, no canto, dentro e fora da gente).
A obra se alimenta de sonhos e realidades. A palavra foi dita e merece atenção. A leitura alimenta o espírito – faz sentido. Nesta degustação: o leitor esteja servido!
https://www.youtube.com/watch?v=gCkOUx4vXY0
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